Um artigo publicado em julho de 2011 no Faculty Dental Journal, escrito pelo dentista Martin Kelleher alerta para um problema cada vez mais presente em tratamentos odontológicos estéticos, daqueles que vemos aos montes todos os dias em perfis do Instagram. Conheçam a pornografia da porcelana. 

“Que demaiiiiiiis”

Veja o artigo completo do Dr. Martin Kelleher AQUI

Em primeiro lugar, a tradução livre do resumo do artigo: “Eu escrevo para levantar alguns problemas envolvendo a flagrante destruição de dentes, aparentemente sendo realizada para curar pacientes afetados pela “doença da falta de porcelana”. Essa nova doença, identificada por alguns dentistas que também acham que o dente sofre de “hiperesmaltose” (um excesso de esmalte). Obviamente que ambas condições são imaginárias, contanto, o que me parece é que alguns dentistas que trabalham com estética acreditam nisso. Nesse artigo eu ofereço comentários e estudo de casos clínicos de pacientes que, indiscutivelmente, realizaram tratamentos agressivos e desnecessários que provavelmente tiveram mais benefícios aos lucros dos dentistas do que para o longo prazo da saúde bucal dos pacientes”

À princípio, uma paulada na testa da Odontologia cosmética e estética. Mesmo sem tomar conhecimento deste artigo, venho há alguns anos alertando sobre este mal em textos aqui no blog. Podem reparar na televisão. Em programas de reality show, nas novelas, entrevistas ou programas de fofoca. Ainda mais nas redes sociais também. A quantidade de dentes facetados é surreal. Uma fábrica de teclas de piano com desgastes dentais permanentes. 

Mas pera aí. Todos tratamentos estéticos com porcelana que vemos por aí estão errados? Não. Não podemos colocar tudo no mesmo balaio, sem dúvida. Entretanto, sabemos que as indicação para utilização desse tratamento que desgasta seis, oito, ou até dez dentes em busca da “estética perfeita imaginária” é restrita. Na minha opinião pessoal, não deveria ser realizada em pacientes jovens, por exemplo, a não ser que seja absolutamente a única e última saída terapêutica.

Sem contar as bizarrices: tratamentos que são feitos em apenas uma arcada, dentes longos, gordos e brancos opacos parecendo o sorriso do Máskara.

Isso porque as porcelanas tem data de validade, temos presença de manchamentos na linha que separa a peça do dente, trincas, risco de fratura, recessão gengival, entre outros. Dentistas que levam a profissão a sério e professores têm alertado: tem uma tempestade chegando. Uma chuva de retratamentos, dentes perdidos e pacientes descontentes em casos onde as porcelanas não eram a melhor indicação. Odontologia de sucesso está na longevidade das reabilitações. 

O Dr. Martin fala também que esses pacientes estão sendo roubados duas vezes (ele usa o termo – double mugging). Primeiro roubam o dinheiro e depois o seu esmalte e dentina. Isso referente aos casos que poderiam ser resolvidos com tratamentos menos invasivos e também menos lucrativos para os dentistas, com clareamentos, pequenas restaurações diretas ou até ortodontia. 

Tanto que inventaram o termo “reabilitações minimamente invasivas” – de alguma maneira para justificar o desgaste dental e atenuar a gravidade da situação. Sobretudo, a solução para este problema está na volta às origens, na propedêutica e no diagnóstico como um todo. Na minha concepção não se desgasta dente saudável de jovens de 20 e poucos anos em nome da “estética das celebridades”. E se o paciente quiser? Se não for a indicação, ele vai ficar querendo!  

Esse pensamento segue a mesma linha de substituir dentes naturais por implantes sem um diagnóstico preciso. 

Fiquei conhecendo o artigo do Dr. Martin hoje cedo, pelo perfil do professor e renomado dentista Dr. Ronaldo Hirata no Instagram, que segue esta mesma linha de pensamento de conservação das estruturas nobres do dente.

O pior de tudo isso é ver a “babação de ovo” em cima de dentistas que postam suas fotos “antes e depois” desses tratamentos em pacientes extremamente jovens, logo após cimentar. Quero ver essas fotos daqui 20 ou 30 anos. Inclusive vejo campanhas para que isso seja enaltecido e curtido, fechando os olhos para a saúde e para a ética. Querem um Brasil melhor, clamam por mais ética na política e olham para o outro lado dentro da própria profissão. Fica o recado para os dentistas que estão entrando mercado em 2019. O tempo vai mostrar os sucessos e, infelizmente, as falhas desse tipo de abordagem.   

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Um Abraço, 

Luiz Rodolfo