Não! Desde que assisti a palestra do Dr. Miguel Stanley no Congresso da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética – SBOE – de 2017, tenho pensado sobre a atitude em relação ao poder de dizer “Não” aos pacientes. Como assim dizer “Não” aos pacientes? Acompanhe o raciocínio comigo.

Somos profissionais da saúde, cirurgiões dentistas, cada um de nós com uma bagagem de experiências clínicas aliada aos conceitos que absorvemos em nossas faculdades, especializações e cursos, somado aos nossos valores pessoais. Em cima disso, montamos uma filosofia de trabalho, conscientemente ou não. Dentro desta filosofia, estão a gama de serviços que oferecemos e executamos em nossos pacientes. E se um paciente me pedir algo fora do que eu ofereço ou do que eu costumo fazer? E se o paciente insistir em fazer algo que não for indicado para ele naquele momento?

Todos nós já passamos por situações como essas. Você aceita fazer todas as vontades dos seus pacientes? Muitas vezes nos passa pela cabeça: “Se eu não fizer, algum outro dentista vai fazer”. Aqui entra o tal “poder do não”. Geralmente, quando você foge do que está acostumado e abre uma exceção, as chances de insucesso aumentam vertiginosamente. Essa é a hora de trabalhar as expectativas do paciente.

Vamos ilustrar com um exemplo. As lentes de contato dentais são tratamentos que alcançam grande visibilidade nas redes sociais e na mídia em geral. Você é um dentista que faz grandes reabilitações e trabalha muito bem com prótese e dentística. Suponha que aquela paciente nova que entrou no seu consultório, chegou querendo fazer lentes de contato para melhorar seu sorriso. No exame clínico inicial, você percebe que todos os dentes da paciente são hígidos, naturais, sem restaurações, levemente amarelados e estão apenas um pouco fora de posição, situação que você – usando sua filosofia e conhecimento, baseado em seu diagnóstico – entende que poderia ser corrigida com aparelho ortodôntico e clareamento dental. Porém, o paciente insiste e abomina a ideia de usar aparelho. Ele veio pronto para fazer as lentes, inclusive, está disposto a pagar por isso. À vista. E aí?

Entenda, fazer lentes ou facetas nesse caso hipotético não está errado, mas digamos que na sua concepção, você acredita que o melhor tratamento para aquele paciente seja o aparelho e o clareamento porque não evolve desgastes no esmalte dos dentes. Depois que os dentes forem desgastados, não tem volta. E você olha aquela paciente que não tem nem 30 anos de idade (muito nova para ter os dentes naturais desgastados) impondo um tratamento que você acredita não ser o mais indicado para ela. É “não”! Cobre a consulta, explique porque o seu tratamento de eleição é este e boa sorte para ela. Fim de papo. Somos os únicos que podem salvar o paciente dele mesmo.

Ceder às vontades dos pacientes cegamente é complicado. Seja firme e forte e diga “não”. Se você acha que aquela restauração de amálgama está satisfatória, a radiografia mostra que está ela boa, o dente está sem sinais ou sintomas e você não costuma trocar amálgama por uma restauração de resina direta. Diga não. Às vezes, o emocional atrapalha nosso julgamento. Porém, fixe os pés no chão sendo objetivo, resolutivo e assertivo. Dá para fazer assim e assado, mas desse jeito aí que você está querendo, paciente, não é possível por isso, isso e aquilo. Você vai se livrar de prováveis problemas no decorrer do tratamento. Quem define o plano de tratamento é o dentista, não o paciente. O paciente ajuda escolher entre diferentes abordagens e planos oferecidos.

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto