Nesta semana, um dos assuntos mais comentados nos principais perfis de Instagram de Odontologia foi essa notícia que saiu no site G1 Broca de dentista se solta durante atendimento e vai parar dentro de pulmão de paciente no RN – por ser uma intercorrência que pode causar grandes danos. Vamos resumir a notícia e fazer algumas considerações sobre como que a situação foi abordada.

O acidente (vou utilizar esta palavra por ser a utilizada na Nota publicada pela própria prefeitura de Lajes-RN) ocorreu no dia 26 de julho. Uma paciente aspirou – sim, aspirou é diferente de engolir – uma broca odontológica que foi parar no pulmão. Vamos discorrer sobre como que algo assim pode ocorrer.

Imagem: Reprodução; Matéria do site de notícias G1

Um dos equipamentos que os dentistas mais utilizam é a chamada (e temida) turbina de alta rotação. É de lá que vem todo aquele barulho fininho de turbina que avião (tziiiiiiim) que nos permite acessar lesões de cárie e desgastar dentes com uma precisão incrível. Na ponta dessas canetas de alta rotação, nós cirurgiões dentistas encaixamos uma broca, ou melhor, pontas diamantadas de diferentes formatos e tamanhos. O normal é que esta broca fique presa por um dispositivo de “pinça” que as canetas possuem e que não se movam. Caso o equipamento esteja com defeito ou o profissional não encaixe a broca da maneira correta, ela pode raramente escapar e em casos mais complicados ser ou engolida (ruim) ou aspirada (pior).

Quando a gente engole alguma coisa como uma broca de dentista, por exemplo, ela segue o caminho do sistema digestório podendo causar danos pelo esôfago, estômago ou intestinos e com sorte vai ser expelida naturalmente, pelas vias normais do corpo. Entretanto, quando algo assim é aspirado, o risco é infinitamente maior, porque ele vai pela via aérea da nossa traqueia, podendo ficar preso lá, causando obstrução da respiração, ou ir parar no pulmão – como vemos aí em cima na radiografia.

E a culpa é de quem??? 

Existem algumas maneiras de minorar danos como esses. Uma delas é a utilização de isolamento absoluto. Um procedimento bastante utilizado em Endodontia – tratamentos de canal – e dentística. Acontece que no caso ocorrido na prefeitura de Lajes, o dentista estava realizando um exodontia, isto é, extração de dente e isso muda tudo. Não há com realizar isolamento absoluto nesse tipo de procedimento. Provavelmente, o dentista estava cortando o dente ou realizando uma osteotomia para poder retirar parte da raiz. São procedimentos comuns do dia a dia do consultório. Se culpa do profissional ou da falta de manutenção? Difícil cravar sem uma perícia bem realizada do caso. 

A corda estoura sempre no lado mais fraco

Quando lemos a nota publicada no Instagram da prefeitura de Lajes, vemos algumas inconsistências, mas a informação está lá: “A Secretaria de Saúde, assim que teve ciência do ocorrido, tomou as providências imediatas cabíveis: realizou o desligamento do profissional que fez o atendimento e encaminhou a cidadã para realização dos exames necessários.” A mesma secretaria qualifica o ocorrido como acidente: “No dia 26 de julho de 2021, a paciente Iolanda Mariano de Melo Simplício realizou um procedimento odontológico no município de Lajes e, acidentalmente, engoliu uma broca.” O profissional poderia ter sido afastado até término de investigação ou perícia, mas pelo visto, sobrou para o lado mais fraco da história.

O que fazer em casos semelhantes?

Isso é de extrema importância: deve-se manter todo o foco no paciente. O paciente é prioridade e todos os cuidados e exames devem ser realizados a fim de evitar maiores problemas para a saúde do paciente após uma intercorrência dessas. Mais uma vez, segundo a nota da secretaria de sáude de Lajes: “… Lá, ela teve sua primeira consulta no dia 02/08 e agendou a retirada do objeto para o dia 11/08. Contudo, a cirurgia não pôde acontecer na referida data, em virtude da quebra do equipamento do HUOL, que informou à paciente e remarcou o procedimento para a semana seguinte. No entanto, a máquina continuou quebrada e a cirurgia voltou a não acontecer.” A paciente ainda não tinha sido tratada após um mês do problema. Alguém mais foi afastado porque o tal equipamento do Hospital público estava quebrado? 

O que devemos fazer é dar TODO SUPORTE ao paciente que sofre algum dano advindo de alguma intercorrência em nossos procedimentos. Acidentes acontecem e estamos todos sujeitos a eles. O que nos resta é utilizar de todos os meios necessários e possíveis para evita-los e não incorrer em imprudência, imperícia ou negligência. Esperamos que tudo dê certo nesse caso e que ele sirva de exemplo para toda nossa categoria possa reivindicar melhores condições de trabalho com melhores equipamentos para oferecermos mais segurança aos pacientes no sistema de saúde pública.

Um Abraço

Luiz Rodolfo

Equipe Dicas Odonto