Conhecemos bem as dificuldades de tratar pacientes com doença periodontal crônica e ativa. Ela não tem cura, mas tem controle. O tratamento periodontal mais eficiente utilizado hoje em dia é baseado em sessões de raspagem para remoção de cálculo dental (tártaro) e controle de placa bacteriana. Em casos mais graves e resistentes lançamos mão de medicamentos sistêmicos como a associação dos antibióticos Amoxicilina e o Metronidazol. Pesquisadores da USP de Ribeirão Preto estudam há cerca de 20 anos um gel que pode auxiliar o tratamento periodontal em um futuro próximo.

A doença periodontal é um dos grandes desafios da Odontologia. Temos na nossa literatura bases bem fundamentadas para tratamentos dessa doença multifatiorial inflamatória que afeta as estruturas de suporte dos dentes e causa sangramento, bolsas periodontais, perda óssea, exposição radicular, mobilidade e, no final, perda dental. Os tratamentos mais eficazes são terapias mecânicas realizadas pelo cirurgião dentista – Raspagem, Alisamento e Polimento dental, aliados ao controle de placa feito pelos pacientes com utilização de escovas dentais, fio dental, escovas interdentais e outros diversos aparatos.

Um grande aliado químico local é o bochecho com Digluconato de Clorexidina a 0,12%, muito utilizado como coadjuvante de ação local. Sua substantividade de 12h ajuda bastante durante o tratamento periodontal, evitando a reinfecção dos sítios já tratados com raspagem.

A utilização de terapias químicas, isto é, medicamentos, sejam eles introduzidos de maneira sistêmica ou local também já foi muito estudada na Periodontia. Hoje entendemos que essas terapias são coadjuvantes às abordagens mecânicas realizadas pelo dentista. O gel que está sendo desenvolvido na Faculdade de Odontologia da USP de Ribeirão Preto contém metronidazol de ação local e é aplicado nas bolsas periodontias após o tratamento convencional de raspagem. Também um coadjuvante que promete ajudar bastante no controle das bolsas.

Sondagem mostrando bolsa periodontal, local onde o gel é introduzido após a raspagem

Segundos alguns estudos preliminares ele possui uma substantividade de 1 hora e tem o poder de reduzir a contagem de alguns micro-organismos presentes nas bolsas. Patógenos periodontais virulentos e organizados ainda resistem ao medicamento e estudos mais recentes apontam uma diminuição do sangramento gengival por um maior tempo, facilitando o controle dos pacientes.

Por que não se consegue tratar esse tipo de doença apenas com antibióticos sistêmicos? – o Biofilme dental maturado é tão organizado que forma uma barreira protetora que impede a entrada dos componentes químicos dos remédios – por isso o tratamento mais eficaz ainda é mecânico – raspagem no consultório e escovação mais fio dental em casa.

Muita gente ainda enxerga o tratamento periodontal como “enxugar gelo”, o que é um grande equívoco. O mais difícil dentro da especialidade da Periodontia não é o tratamento em si, ou afiar curetas, mas a mudança dos hábitos dos pacientes. Ensinar o paciente a ter uma higiene bucal eficaz e frequente é um grande desafio. Pode perceber que todas doenças que demandam mudança de hábitos (Obesidade, Diabetes, Hipertensão Arterial, etc) são de difícil controle. É preciso motivar os pacientes em todas as consultas, pegar um espelho e mostrar para eles: “Olhe aqui, isso é uma bolsa periodontal. A gengiva está solta. Ela sangra e acumula alimento. Deixa seu dente sensível no início. O fio dental deve entrar no sulco e remover essa gosminha branca todos os dias”.

Esperamos que daqui 5 ou 10 anos esse novo gel possa estar a nossa disposição para utilizarmos nos casos mais graves de doença periodontal e até na tão temida periimplantite. Ele vem para somar esforços no controle tão difícil dessa doença e promete não ter efeitos colaterais por ser aplicado de maneira local.

Um abraço,

Equipe Dicas Odonto