Tudo começou ontem com um amigo dentista em um grupo de Whatsapp. O dentista recebeu um paciente muito nervoso por ter sido impedido de doar sangue após ter realizado um enxerto ósseo na boca. À partir daí, começamos uma extensa pesquisa sobre o assunto, porque realmente nunca havíamos ouvido falar que o enxerto ósseo xenógeno, advindo de osso bovino ou equino, poderia se tornar um impeditivo para doadores de sangue. Tenho certeza que esses questionamentos viralizaram por aí e hoje estou recebendo informações em vários grupos sobre o assunto. Afinal, qual a recomendação? Qual o protocolo?

Segundo o site da Fundação Pró-Sangue, as condições que impedem uma pessoa de doar sangue para o resto da vida são as seguintes:

  • Tem ou teve um teste positivo para hiv

  • Teve hepatite após os 10 anos de idade

  • Já teve malária

  • Tem doença de chagas

  • Recebeu enxerto de duramater

  • Teve algum tipo de câncer, incluindo leucemia.

  • Tem graves problemas no pulmão, coração, rins ou fígado

  • Tem problema de coagulação de sangue.

  • É diabético com complicações vasculares ou em uso de insulina

  • Teve tuberculose extra-pulmonar

  • Já teve elefantíase.

  • Já teve hanseníase.

  • Já teve calazar (leishmaniose visceral)

  • Já teve brucelose

  • Já teve esquistossomose hepatoesplênica

  • Tem alguma doença que gere inimputabilidade jurídica

  • Se foi submetido a transplante de órgãos ou de medula

O enxerto ósseo xenógeno – de animais de espécie diferente da nossa – não está descrito neste guia. Mandei um e-mail ontem para a Fundação Pró-Sangue e prontamente me responderam:

Acredito que existam diferentes protocolos e sugestões de diferentes órgãos sobre quem pode e quem não pode doar sangue. Uma ação como esta também não pode ter inúmeros impeditivos. A quantidade de doadores de sangue já não é tão grande no Brasil e os pacientes que recebem enxertos ósseos são muitos.

Uma preocupação muito grande no exterior é com o príon causador da encefalopatia espongiforme bovina (EEB), mais conhecida popularmente como a “Doença da Vaca Louca”. Entretanto, sabemos que os enxertos bovinos particulados que utilizamos são tratados e acelulares. O que utilizamos é apenas uma matriz que induz a formação óssea no local utilizado.

Encontramos um manual da OMS – Organização Mundial de Saúde – e nele as pacientes que receberam enxerto xenógeno estão impedidos de doar sangue para o resto da vida. Vejam a imagem abaixo:

As empresas Geistlich e Criteria aproveitaram a onda e espalharam as imagens abaixo:

Veja que, independente da marca “X” ou “Y”, enxerto de osso bovino é enxerto de osso bovino. O Hemocentro não vai querer saber e, às vezes, nem o paciente sabe a marca de enxerto utilizada. Se estiver no protocolo deles negar a doação em caso de enxerto de osso bovino por 12 meses ou para toda vida, eles irão negar e ponto final.

Por enquanto, para responder a pergunta do título, recorremos ao Ministério da Saúde e estamos aguardando resposta. Parece que realmente vai depender do protocolo de cada Hospital ou Fundação que recebe doadores de sangue. Vamos aguardar o desenrolar. Nem sempre as recomendações internacionais são as mesmas que as nacionais. Por hora, acho importante avisarmos nossos pacientes antes de realizarmos um procedimento com enxerto ósseo que ele pode ficar impedido de doar sangue por pelo menos 12 meses e inserir isso nos nossos termos de consentimento informado.

Leia mais – ARTIGO DO PROFESSOR ALBERTO CONSOLARO – USP BAURU

Se alguém tiver mais informações, pode comentar abaixo

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto