Flúor e Q.I. qual a relação? O fenômeno das bobagens que circulam nas redes sociais está cada vez mais presente nas discussões do nosso dia a dia. Infelizmente, alguns assuntos que estavam soterrados voltam à tona em um ciclo sem fim de obscurantismo muito mais baseado em crenças e achismos do que nos fatos reais. Vamos desvendar essa história sobre um estudo de Harvard que sugeriu ligação entre diminuição de Q.I. e fluoretação das águas.
Vou aproveitar esta semana em que o Dicionário Oxford escolheu como palavra do ano de 2016 a “pós verdade” (post-truth) – “circunstâncias em que os fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais” – conceito que permeia muitos assuntos sobre saúde que encontramos na Internet. A recente eleição norte americana, o tão discutido “BrExit” e até a imprensa brasileira estão sendo regidos por esse conceito um pouco assustador porque leva muito mais em conta a emoção, o calor do momento e o achismo do que a verdade dos fatos.
LEIA O PARECER TÉCNICO DE 2021 SOBRE ESSES ESTUDOS – CLIQUE AQUI
No século da informação fácil e rápida, o próprio jornalismo quando tenta “acompanhar” as novas tendências acaba esquecendo de checar os fatos e muitas vezes publica bobagens. NÃO HÁ EVIDÊNCIA CIENTÍFICA (e em 2023 aind não há!) de que o flúor na água em concentração ótima diminui o Q.I. de crianças. O que os pesquisadores de Harvard fizeram foi uma revisão de 34 publicações, sendo 32 delas estudos chinesas (algumas delas incompletas, diga-se de passagem) e 2 delas iranianas. Estatisticamente houve uma ASSOCIAÇÃO DE DADOS, o que está longe de ser EVIDÊNCIA CIENTÍFICA da neurotoxicidade do Flúor. Beber água fluoretada em concentração ótima, da maneira que temos aqui no Brasil – cerca de 0,7 ppm – não causa danos ao desenvolvimento intelectual.
A REVISÃO DE LITERATURA: CLIQUE AQUI e leia a revisão de literatura de Harvard – Developmental Fluoride Neurotoxicity: A Systematic Review and Meta-Analysis. Ele é um estudo de associação de dados e não de causa e efeito. Além disso, eles falam em exposição a altas concentrações de flúor.
Essa machete – Estudo de Harvard confirma que Flúor reduz Q.I. – foi veiculada em 2012 e gerou centenas de links pelo Google com blogs e sites de notícia espalhando informação falsa pela Internet toda até os dias de hoje. Adoradores de Teorias da Conspiração sobre os males do flúor deitaram e rolaram. Não, pessoal. O próprio conceito de Q.I. é extremamente duvidoso o que já deveria jogar essa manchete na lata do lixo. É claro que você pode considerar o flúor um veneno, porque tudo é uma questão de DOSE, mais uma vez parafraseando Paracelso.
Veja este episódio do Podcast Podsodar com a cirurgiã dentista e pesquisadora Jaqueline Vanini sobre evidência científica
No Brasil, a fluoretação das águas de abastecimento é lei. Essa ação de saúde coletiva previne cáries desde que foi implantada e segundo estudos mais recentes ainda deve continuar pela alta prevalência da doença aqui no país. O que é preciso é um acompanhamento de perto das autoridades na medição da concentração do flúor na água para que a medida esteja sempre correta nas proximidades de 0,7 ppm.
O flúor ainda é o maior dos aliados do dentista no combate à cárie. Além da água de abastecimento, ele está presente nas pastas de dente, em bochechos, em vernizes de uso profissional e em aplicações tópicas realizadas em consultório odontológico. Hoje podemos contar com materiais dentários que liberam flúor sobre os dentes.
Para estudos, curiosidades e mais evidências sobre o flúor acesse a página da ABOPREV no Facebook. Seja mais crítico, cheque informações e não acredite de cara em tudo que você lê.
Atualização 16/11/2023 – Ainda HOJE temos profissionais de saúde como médicos e dentista espalhando esta informação falsa pela Internet. Todo cuidado é pouco e o mundo hoje me 2023 é muito diferente de 2016. Hoje vivemos em bolhas de informação e profissionais com autoridade espalham essas mentiras sobre flúor e Q.I. ou TDAH, autismo e outros correlações espúrias. Cuidado com a desinformação e procure fontes sérias.
Um Abraço,
Equipe Dicas Odonto