Estamos enfrentando uma enxurrada de informações nesta era digital em que vivemos. Nem sempre a informação está sendo passada de maneira correta e muitos dos nossos pacientes nos procuram alarmados querendo saber se flúor faz mal, se radiografias odontológicas causam problemas de tireóide e se restaurações de amálgama acumulam mercúrio no sangue. 

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Nessa semana o site de notícias UOL publicou uma reportagem cuja manchete chama atenção: “Obturações na boca podem aumentar o nível de mercúrio no sangue, diz estudo”. Porém, o que isso realmente significa? O amálgama de prata é utilizado em Odontologia há mais de 150 anos e está em grande desuso no Brasil e no mundo. Materiais como as Resinas Compostas têm se tornado os atores principais das restaurações realizadas em consultórios de forma direta. O estudo publicado por pesquisadores do Departamento de Ciências da Saúde Ambiental da Universidade da Georgia, Estados Unidos encontrou uma leve elevação nas quantidades de mercúrio no sangue de pessoas que tinham 8 ou mais restaurações de amálgama na boca. 

O mercúrio é um metal bioacumulativo e ele pode chegar até o ser humano através de alimentos, principalmente os peixes. Tivemos acesso apenas ao resumo do estudo (NESTE LINK) que demonstra as quantidades mensuradas no sangue de quase 15.000 pessoas.

Uma informação que nenhuma das fontes fala é que o mercúrio advindo das restaurações de amálgama é eliminado do organismo pela urina em cerca de 10 dias. Outro dado que não é explorado é que segundo a OMS (organização Mundial de Saúde) a quantidade máxima (ou segura) de mercúrio no sangue deve ser menor que 7 µg/g. No tal estudo, os pesquisadores encontraram o número de 1,17 µg/g como máximo em pessoas com 8 ou mais restaurações de amálgama. Foi encontrado um aumento, porém nada alarmante que possa afirmar que unicamente restaurações de amálgama são capazes de causar intoxicação por mercúrio.

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Fonte: http://soumaisenem.com.br/biologia/ecologia/ecologia-bioacumulacao-ou-magnificacao-trofica

É preciso analisar os dados com frieza. Acho que essas pesquisas são de extrema importância para nossa profissão e nos ajudam a fazer escolhas no âmbito da saúde coletiva. Eu mesmo já não trabalho com amálgama há 10 anos, pela evolução e conveniência das resinas compostas. O material amálgama de prata serviu e ainda serve seu propósito pelas suas qualidades mecânicas, facilidade de manipulação e baixo custo. 

E NA HORA QUE OS PACIENTES QUEREM TROCAR SUAS RESTAURAÇÕES EM AMÁLGAMA?

Cada caso deve ser avaliado individualmente. Em alguns casos, o simples fato de mexer em um dente com uma restauração grande de amálgama pode levar a um tratamento de canal e restaurações indiretas em porcelana ou até mesmo evoluir para um tratamento protético com coroas totais. O paciente deve estar ciente de que não adianta trocar a restauração e só voltar no dentista anos depois. Todo tratamento odontológico exige revisões periódicas e consultas de manutenção. Em casos onde a restauração de amálgama está sem infiltrações, sem fraturas e o dente está em boas condições clínicas e radiográficas, não seria indicada a troca, a não ser que essa seja a vontade do paciente.

O bisfenol A (ou BPA) é uma substância liberada por plásticos que pode fazer mal à saúde. Produtos que continham essa substância forma banidos das prateleiras aqui no Brasil em 2011 e 2012 pela ANVISA. O estudo da Universidade da Geórgia também procurou por Bisfenol A na urina dos participantes que tinham restaurações em resina composta na boca e NÃO ENCONTROU NENHUMA RELAÇÃO. Diferente do que foi publicado no UOL. 

Assim como na recente polêmica da radiografia odontológica e a tireóide – LEIA AQUI – que foi levantada por um vídeo que virou viral pelo Whats App e outras desinformações que vemos por aí, é preciso sempre ler as matérias sobre saúde com senso crítico. Tudo o que fazemos em Odontologia é baseado em evidências científicas de anos de estudo e clínica. Sempre que tiver dúvidas sobre tratamentos odontológicos, consulte e converse com seu dentista.

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto