Você já deve ter visto nos últimos dias imagens de lábios com suturas de lado a lado mostrando um pós operatório de cirurgia de redução de lábio. Essas imagens são de procedimentos realizados por cirurgiões plásticos fora do Brasil, uma dita tendência em países asiáticos, onde alguns modismos bizarros tendem a aparecer como os “Yaeba Teeth“.
A cirurgia é estritamente estética, pelo que aparenta, diminuindo o tamanho do lábio superior, criando uma linha de cicatriz na região em que ficam as suturas. As fotos causaram grandes discussões nas redes sociais por motivos óbvios. Aparentemente, é um legítimo caso onde a estética extrapola a função, visto com olhos odontológicos. Os lábios precisam ter selamento, isto é, quando estamos em repouso o lábio superior precisa encostar em toda sua amplitude no lábio inferior, fechando a boca. A falta de selamento labial pode causar problemas de respiração e boca seca, por exemplo, que a longo prazo pode aumentar o risco de aparecimento de cáries.
O ser humano parece nunca se acostumar com sua aparência, cada vez mais inventando novos meios de se parecer com alguma celebridade, algum animal ou de se diferenciar totalmente de tudo mundo. Alguns podem chamar isso de “cultura”, outros podem achar que é uma busca por identidade que beira o distúrbio psicológico. Essa remodelação do lábio vai na contra mão do que víamos há alguns anos (ou ainda vemos), com mulheres querendo ter lábios grossos e carnudos estilo Angelina Jolie.
Sim, meu amigo, Brigitte Bardot, musa dos anos 60 dá o nome popular da cirurgia plástica que visa um “melhor contorno labial”, a Bardotização. É uma remodelação de contornos, com remoção de excessos, deixando o lábio superior como um arco (de Eros), no formato de um arco de arco e flecha (veja novamente a primeira imagem e perceba o formato de arco do lábio superior). Nada contra o procedimento se ele for bem indicado pelo cirurgião plástico, ok? Pelo que li em alguns sites ela é indicada para pessoas mais velhas com flacidez labial, rugas e sobras. Inclusive, um site menciona que a técnica foi inventada pelo Dr. Ivo Pitanguy. E por que cargas d´água um cirurgião dentista está escrevendo sobre cirurgia plástica de lábios?
Oras, porque estamos vendo um crescente uso de substâncias preenchedoras labiais ou faciais, como PMMA (Polimetacrilato) sendo utilizadas por cirurgiões dentistas devido ao recente ganho de área de atuação. Hoje existe uma gama de opções para se mexer nos lábios, procedimentos não necessariamente cirúrgicos e sem volta como o da foto.
Tenha certeza: pacientes vão bater o olho nessas fotos aí que circularam bastante nas mídias sociais e terão dúvidas quando sentarem em nossas cadeiras para tratamento odontológico. Pelo que vi em alguns cometários, tem gente que até gosta dessa ideia de remodelar o lábio cirurgicamente. A minha singela opinião é que essa é uma cirurgia desnecessária em uma pessoa jovem.
“E daí? Deixa fazer! O lábio é dela e ela faz o que quiser”. Não concordo. Se um paciente sentar na minha cadeira e pedir para transformar todos os dentes dele em caninos pontudos para ele ficar parecido com um gato ou um tigre, eu certamente não irei fazer e irei orientá-lo sobre o mal que esse procedimento poderia causar. “Ah, mas aí ele vai em outro consultório e alguém faz para ele”. Sem problemas. Esse alguém não serei eu. Antes de tudo, o profissional da saúde precisa proteger o paciente dele mesmo (frase que ouvi do meu amigo dentista Marcelo Giordani), porque existe um limite. Tem que ter um limite! Seja na hora de escolher cor e tamanho de dentes ou na hora de avaliar uma bichectomia. É preciso ter critério. “Primum non nocere” – Primeiro, não faça mal. O que você acha?
Um Abraço
Equipe Dicas Odonto