Não tenho nada pessoal contra o Listerine e muito menos nada contra a Johnson & Johnson, fabricante do produto.



Nós dentistas sabemos há algum tempo que o uso contínuo e indiscriminado de álcool é um dos fatores predisponentes para o aparecimento de câncer bucal. O dano que o álcool causa às células, somado à outra mistura de fatores, pode levar ao câncer de boca. O tabagismo é outro fator predisponente, pois o aumento de calor constante e as substâncias tóxicas contidas ali acabam com os tecidos, podendo levar à um tumor cancerígeno. Os dois juntos, fumar e beber, potencializam as chances de aparecimento do câncer bucal. Isso são fatos que a literatura odontológica confirma.

Por que que estou sendo tão enfático e repetitivo? Bem, a revista Superinteressante de Novembro deste ano (2010), apresentou o Listerine no quadro “Contém”. Esse quadro da revista mostra o conteúdo dos produtos do nosso dia-a-dia por um ângulo totalmente diferente e neste caso, com consultoria de profissionais da odontologia e da própria Johnson & Johnson. O título deste era que Listerine continha Vinho do Porto e ar condicionado. Ok, às vezes eles são um pouco irônicos, mas o fato colocado é que: Listerine tem tanto álcool quanto o Vinho do Porto (mais de 20%), em sua fórmula. No Listerine o álcool serve de solvente para os óleos essenciais, outra substância marca registrada do produto.

O Listerine é um dos produtos para bochecho (ou colutório) mais vendidos no mundo e já foi aprovado até pelos “Mithbusters – Os Caçadores de Mitos” em propagandas. Os caras caíram no meu conceito depois daquele comercial. E reparem em outra coisa: “o álcool é responsável pelo ardor na gengiva – a marca registrada do Listerine.” – texto retirado da matéria da revista Superinteressante. Então, alguma coisa está desvirtuada.

E por que que o Listerine não tira o álcool da sua solução (já tirou – VEJA AQUI – mas continua vendendo sua forma alcoólica), como já fizeram alguns outros enxaguatórios bucais? Desconfio que seja por 3 motivos:

1 – Não se mexe em time que está ganhando.

2 – Essa história de “explosão” na boca e ardência é uma característica especial do Listerine, que o torna diferente, isto é, sua marca registrada.

3 – Não há outro veículo efetivo para os Óleos Essenciais, produto base do Listerine. Assim, para tirar o álcool, teriam que mudar toda a fórmula do produto. (Me corrijam se eu estiver errado aqui..)

O que eu gostaria de mostrar para vocês são essas coisas que acabam irritando os profissionais da Odontologia. As pessoas confiam nas propagandas, mas não nos dentistas. Não adianta a gente falar, explicar e gastar saliva. Os pacientes são bombardeados pelos comerciais que mostram o Listerine destruindo as bactérias e falando como ele é essencial, mesmo a gente sabendo que ele é um coadjuvante na saúde bucal. E além de fritar as células gengivais, vem escrito no rótulo do produto: “protege as gengivas“.

Posso até estar extrapolando, mas assim como a falida IMBRA, o Listerine não está preocupado com a odontologia ou com a saúde dos pacientes e sim com a coisa move o mundo: Grana! Dindin! Tutu! Nada contra eles quererem ter lucro. Sou contra o marketing “desinformativo”. Não é preciso ficar bochechando vinho. A não ser que você seja um enólogo.

O que precisamos: Mais pesquisas sobre o assunto. Aí fica a dica aos graduandos de odontologia e alunos de cursos de especialização. Quanto mais estudos, melhor, para provarmos um ponto ou outro e sabermos da verdade científica do nosso tempo.

Links úteis:

Pesquisa científica com uma conclusão diferente do que foi descrito acima: clique aqui

Pesquisa científica que corrobora o artigo do Blog: clique aqui

Matéria de 2009 sobre o câncer bucal: clique aqui

Notícia sobre câncer bucal: clique aqui

Um Abraço,

Equipe DicasOdonto

Luiz Rodolfo