Utah será o primeiro: a remoção do flúor e suas consequências
Os desdobramentos desse movimento seguem exatamente o que já foi alertado em vários artigos do Blog Dicas Odonto. O atual secretário de saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por sua linha negacionista, lidera uma forte campanha para remover o flúor da água de abastecimento. A justificativa? Um discurso sobre liberdade e toxicidade.
Na prática, isso significa que os norte-americanos terão “liberdade” para ter mais cáries, enquanto os dentistas verão seus bolsos recheados com os lucros dessa decisão de “anti-saúde” pública.
A fluoretação sempre foi atacada
Não é de hoje que defendo a fluoretação da água. Insistentemente, em diversos artigos, venho mostrando como essa é uma das melhores estratégias de saúde pública. Dentistas de verdade entendem e defendem essa ação.
Desde que o flúor foi adotado como solução barata e eficaz para melhorar a saúde bucal, ele vem sofrendo ataques. Agora, por conta de uma promessa de campanha do presidente Donald Trump, o mês de maio de 2025 marcará o início da remoção do flúor da água nos EUA.
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O governador republicano de Utah, Spencer Cox, já anunciou que vai sancionar a lei. A deputada republicana Stephanie Gricius ainda declarou que farmacêuticos (e dentistas?) poderão prescrever comprimidos de flúor para quem quiser. Ou seja, liberdade total para ter cáries, não é mesmo?
O impacto real da fluoretação
Agora, pare e pense: a fluoretação da água de abastecimento segue a mesma lógica do iodo adicionado ao sal. No Brasil, essa medida adotada nos anos 1950 ajudou a evitar doenças da tireoide, como o bócio, por exemplo. O mesmo ocorre com as vacinas.
Essas são conquistas da modernidade que melhoraram a qualidade de vida da população. Quando reduzimos a incidência de cáries, evitamos perda dentária, melhoramos a alimentação e digestão, reduzimos doenças bucais e, consequentemente, diminuímos os gastos com saúde pública.
“Em média, cada dólar investido em fluoretação economiza cerca de US$ 20 em custos de tratamento.”
– Dr. Scott Tomar, reitor da Universidade de Odontologia de Illinois, Chicago
A American Dental Association (ADA) enviou uma carta ao governador de Utah sugerindo que ele vetasse a lei. Ademais, o Centro de Controle de Doenças (CDC) estimou que a fluoretação da água economiza cerca de US$ 6,5 bilhões por ano em custos de tratamento dentário.
Agora, com essa nova medida, parte desse dinheiro irá direto para o bolso dos dentistas que atuam na “terra da liberdade”. Afinal, lá, você é livre para deixar crianças sofrerem com cáries. E adivinhe quem será o grupo mais afetado por essa mudança?
O que a história nos ensina
Essa história de remover o flúor da água não é novidade. No Canadá, duas cidades já cometeram esse erro. E o resultado? Vamos aos fatos:
- Windsor (Ontario, Canadá) retirou o flúor da água em 2013. Entre 2016 e 2017, o número de crianças com cárie aumentou 51% em comparação aos anos de 2011 e 2012. Em 2018, arrependidos e cariados, os canadenses votaram pela volta do flúor.
- Calgary (Canadá) removeu o flúor em 2011. O impacto foi tão negativo que a previsão é que a fluoretação volte a ser adotada ainda em 2025. Curiosidade: pegue a primeira e a última sílaba do nome dessa cidade – CaRy
A ciência já mostrou o que acontece quando a política ignora os fatos. Em suma, a ideologia e os interesses econômicos sempre falam mais alto. Enquanto isso, as crianças – maiores afetadas por essa necropolítica – pagam o preço.
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O que isso tem a ver com você?
Se você chegou até aqui, pode estar se perguntando: “O que eu, um simples latino americano, tenho a ver com isso?”
A resposta é simples. Esse movimento não está isolado nos EUA. Existe um esforço internacional para espalhar essas ideias, priorizando uma visão de liberdade individual acima da saúde pública.
Você acha que essas más ideias “MAGAvilhosas” desse pessoal não pode chegar por aqui? Com todo esse sabujismo que vemos de muitos brasileiros com os Estados Unidos?
O individualismo extremo pode facilmente chegar ao Brasil, impulsionado por aqueles que idolatram os “bons costumes”. Já vimos isso acontecer antes. E, sinceramente? Eu não duvido de mais nada.
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Um Abraço Fluoretado,
Luiz Rodolfo May dos Santos
Cirurgião Dentista | Editor do Blog Dicas Odonto | Criador de Conteúdo | Apresentador e Co-criador do Podcast PodSondar