Eu ainda não sei porque existe um grande tabu para o atendimento das pacientes gestantes. As futuras mamães DEVEM ser atendidas e fazer um acompanhamento odontológico durante a gestação. De preferência, faça o atendimento no trimestre do meio – dos 3 meses aos 6 meses. 

1- “Fale com seu médico … Eu falaria.”

Vamos seguir a célebre frase do rei Pelé na antiga propaganda do Viagra – entre em contato com o(a) médico(a) ginecologista que acompanha a paciente, se necessário. Qualquer dúvida em relação à medicamentos, histórico médico, uso de anestesia local em caso de urgência, se você pode ou não tirar uma radiografia. Aqui, você não vai pedir “autorização” para o(a) médico(a). Envie uma carta pedindo “AVALIAÇÃO” da paciente para tal procedimento, ou para administração de tal remédio se você tiver alguma dúvida. Geralmente, o cirurgião dentista tem autonomia total e discernimento para indicar os tratamentos e medicamentos corretos. 

2 – Tudo diferente – Hormônios!!!

“É de observação generalizada o aumento da inflamação gengival durante a gravidez, a partir do primeiro trimestre, coincidindo com a produção máxima de gonadotrofinas e, mais tarde, com a ascensão nos teores de estrogênios e de progesterona. A gestação aumenta a gravidade da reação inflamatória gengival, mas não a inicia ou deflagra. Boa higiene bucal e mucosa sadia, ao iniciar a prenhez, asseguram a higidez do periodonto e, conseqüentemente, dos próprios dentes. (REZENDE, 2005)

Então, o que custa fazer uma bela profilaxia com taça de borracha, pasta profilática, fio dental e escova de Robson + aplicação de fluor no início da gravidez? Pegar o espelho e ver se a paciente está escovando os dentes corretamente? Prevenção, meus queridos! Ainda mais, sabendo que a mulher está comendo por dois e muitas vezes fora de hora, não mais fazendo  3 refeições distintas.

3 – “A cada gravidez se perde um dente

Talvez na época de nossas avós. Até remete à época das nossas mães. Hoje em dia, essa frase é inaceitável. Está certo que a gravidez pode deixar a paciente mais susceptível a doenças bucais, mas temos que ensinar e orientar a paciente a redobrar o cuidado com a higiene oral e na medida do possível controlar a dieta com muito açúcar fora de hora das refeições.

4 – Que remédio pode?

Sabemos que a gestante deve evitar a ingestão de medicamentos ao máximo. Nos casos de dor, o analgésico de eleição é o Paracetamol (se a paciente não tiver alergia). Em caso de infecção por qualquer tipo de abcesso, a paciente deve tomar um antibiótico. Caso ela não seja alérgica, o Amoxicilina 500 mg é o fármaco de eleição. Os Anti-inflamatórios não são indicados. Mesmo assim, na dúvida, volte ao item 1 – ligue para o(a) médico(a). ATENÇÃO: Nunca tome medicamento sem prescrição médica ou do dentista!

5 – E anestesia local, pode?

Eu duvido que você vá fazer uma abertura dental em caso de pulpite, sem anestesia. Anestesia pode sim, apenas em casos de urgência. Devem-se evitar os vasoconstritores, principalmente a Felipressina (Octapressin), por ter como um dos efeitos colaterais a movimentação uterina. Então aquele Citanest que você usa para seu paciente diabético está proibido para gestantes. Não se esqueça também de economizar nos tubetes. Quanto menos, melhor. Vamos pensar aqui em no máximo 3 tubetes. 

6 – Bebês mutantes por culpa do dentista???

Realmente, fazer uma tomada radiográfica numa paciente grávida é a última coisa que você vai pensar em fazer. Porém, o diagnóstico entre realizar ou não um canal pode depender dessa radiografia. Volte, novamente ao item 1. Alguns médicos dizem que não há problema nenhum, pois a exposição é muito pequena. Assegure-se de colocar o colete de chumbo sobre o ventre da gestante. Use 2 coletes protetores, um sobre o outro, por via das dúvidas.

Na dúvida – vá na raça. Sério! Não radiografe, anestesie a paciente e vá removendo a lesão de cárie devagar, com brocas de baixa rotação e curetas, vendo clinicamente se há exposição pulpar. Faça o que fizer, atenda a paciente, tire o seu desconforto. Tomar remédio não resolve o problema nos casos de pulpite. O pior que pode acontecer com uma gestante é ela passar o dia morrendo de dor de dente, pulando para lá e para cá entre dentistas que acham que a mulher vai explodir em suas cadeiras e na verdade morrem de medo de mexer no problema. Se você se acha incapaz de atender uma gestante, ok. Indique. Indique para um colega que você tem certeza que vai ajudá-la. 

O que não pode é deixar a gestante ao léu, traumatizada de dor e achando que os dentistas não servem para nada. Para você pensar, doutor:

O que é pior? – Aguentar uma dor de dente terrível por 9 meses ou passar no dentista, aplicar um ou dois tubetes de anestesia e resolver o problema da dor de vez, até que se possa mexer devidamente no dente? E se fosse você ou sua mãe? O que você faria?

LEIA MAIS – DESMISTIFICANDO O ATENDIMENTO DE GESTANTES

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto