Perceba a pequena mudança de palavras no título deste artigo. Ele se parece muito com o que a mídia leiga tem espalhado nesses últimos dias. Lendo o estudo realizado e entendendo o que o remédio utilizado para Alzheimer realmente fez nos dentes dos ratinhos de laboratório, não podemos afirmar que ele “cura cáries” como as reportagens sensacionalistas e simplistas noticiam.
“Remédio para Alzheimer pode curar cáries em 6 semanas” é o que lemos por aí na Internet em alguns sites de renome. Porém a frase está incorreta, fazendo a gente achar que a doença cárie pode ser curada por um remédio. Na verdade o composto utilizado na pesquisa com ratos foi capaz de restaurar a dentina de dentes perfurados. Um dos compostos utilizados na pesquisa foi o Tideglusib (composto que vem sendo visto como uma promessa no tratamento do Mal de Alzheimer) e ele foi capaz de estimular células tronco da polpa dental para se diferenciarem em Odontoblastos e formar dentina para reparar os buracos feitos nos dentes molares dos ratos.
Essa descoberta é sensacional, mas está longe de ser uma cura para cáries ou mesmo um substituto completo para os materiais restauradores usados pelo dentista. Uma espoja de colágeno biodegradável embebida com Tideglusib foi inserida nos furos feitos com broca carbide nos dentes do ratos. Os furos foram feitos até o teto da câmara pulpar. Com um agulha eles geraram uma exposição pulpar. A esponja foi selada com Cimento de Ionômero de Vidro (CIV) para evitar contato com o meio bucal. Depois de 6 semanas os dentes foram extraídos e analisados. Houve formação relativamente significativa de dentina sob o CIV.
Entenda que mesmo que esse produto chegue até os consultórios dos dentistas, você, paciente, ainda não estaria livre dos procedimentos de remoção de cárie com anestesia, brocas, canetas e alta e baixa rotação e curetas. Para haver reparação e formação de dentina estimulada pelo composto, o buraco precisaria estar limpo e livre de cárie. E ainda cairíamos em um outro dilema – o remédio só funciona se houver exposição pulpar. Na prática da Endodontia de hoje, quando há exposição da polpa, o tratamento indicado é a extirpação da polpa e realização de procedimentos para tratamento de canal.
Veja que é possível pensar em vários usos para o produto, mas ele não cura, nem regride cárie e nem forma todo dente de novo como mágica. A parte do esmalte do dente ainda precisaria ser restaurada usando materiais como resina ou porcelana e o dente precisaria de acompanhamento, porque como poderíamos garantir que ao acessar a polpa do dente, ela não estaria infectada?
Então ainda é bom ter muita calma com previsões como o fim do motorzinho ou das restaurações. A imprensa leiga todo ano vem com alguma novidade dessas que parece que vai revolucionar o jeito com que tratamos dentes, mas as descobertas são lentas e se somam com os anos. Evoluímos muito e cada vez mais rápido. A próxima fase de testes envolve testes em humanos. Daqui alguns anos, muito provavelmente, ele estará disponível no mercado.
Veja artigo completo no site da Revista Nature – AQUI
Um Abraço,
Equipe Dicas Odonto
Luiz Rodolfo