O CFO (Conselho Federal de Odontologia), nossa autarquia federal, vem de uma ressaca braba de uma operação da Polícia Federal (Operação Tiradentes, deflagrada em 2016) que descobriu uma farra de gastos desenfreados e ilegais, desperdiçando o suado dinheiro pago obrigatoriamente pelos dentistas, anualmente, para exercer sua profissão. Segundo algumas importantes agências de notícias do país, o cálculo da Polícia Federal é que a fraude cometida por alguns dos antigos conselheiros (incluindo o ex-presidente do Conselho) tenha dado um prejuízo de cerca de 40 milhões de reais com uso de notas frias, contratação irregular de serviços, diárias falsas entre outros crimes. Como será a abordagem dessa nova gestão?
Diante dos fatos e desse momento que vivemos, a pergunta que fica é: Como será a abordagem da nova gestão a ser eleita e que assumirá brevemente os destinos da Odontologia no país, pelo CFO?
Estelionato, peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Um show de horror enquanto a Odontologia brasileira sofre com insegurança jurídica, códigos velhos, estrutura arcaica e uma sucessão de resoluções mal redigidas que ao invés de facilitar o entendimento da nossa área de atuação, complicam a vida da odontologia moderna e o entendimento da mesma pela população ou até mesmo por quem pretende exercê-la. Enquanto você estava ralando o bumbum no mocho e entortando sua coluna para lidar com os problemas da saturação do mercado e dos movimentos desleais de algumas empresas de plano de saúde odontológico, tinha conselheiro “jantando” no Bahamas Hotel Club com dinheiro do Conselho. Uma verdadeira orgia, se você me permite utilizar a palavra mais adequada.
Muito bem. Tudo isso passou. O TCU (Tribunal de Contas da União) está na cola dos Conselhos no momento e o pessoal que assumiu a bucha de administrar um Conselho em frangalhos em julho de 2016 faz a gestão até hoje e vai assumir a gestão do próximo triênio – 2018 – 2021 porque foram os únicos que conseguiram organizar uma chapa para esta eleição que ocorrerá agora em junho de 2018. Além de tudo isso, a sede do CFO está de mudança do Rio de Janeiro para Brasília (já há algum tempo), o que vem atrasando muito os registros de especialidades odontológicas pelos dentistas. Há registros demorando mais de 12 meses. Sim, isso no século XXI com internet, e-mail, digitalização de documentos, whatsapp e tudo mais.
Na sequência dessa tempestade de corrupção e seguindo os rumos do que os brasileiros clamam depois do saldo de operações de combate a corrupção como a Lava Jato, a gente espera uma melhora na gestão, com mais transparência na prestação de contas e mais participação da classe.
Uma das reclamações de colegas dentistas é sobre as regras para se cadastrar uma chapa em uma eleição como esta do CFO. É tudo muito complicado e burocrático, sendo que para quem está de fora, a impressão que passa é que sempre a mesma turminha manda por lá. Outra demanda recorrente é sobre a representatividade versus a quantidade de dentistas nos estados. Segundo a lei, estados como São Paulo que tem quase 90.000 dentistas ativos ou Minas Gerais, com cerca de 35.000, têm a mesma representatividade que o Acre e Roraima que possuem 759 e 788 dentistas ativos, respectivamente. Ok, isso é a lei, mas será que não está na hora de começar um movimento que gere mudanças nessas leis?
Queremos renovação! Se não for possível a renovação de pessoas, como será o caso nesta eleição, que se renovem as atitudes
Na primeira quinzena de março, um colega entrou em contato via e-mail com o Conselho pedindo informações sobre como seria o cadastramento de chapas para a eleição que vai acontecer em junho deste ano porque não é fácil encontrar informações sobre isso no site oficial. As resoluções são extremamente confusas. Diante da ausência de respostas sobre a eleição, o colega insistiu na sua busca pela informação. Ligou na sede da entidade e alegou que foi atendido por uma telefonista que não conseguia repassar a ligação a ninguém, mas que se comprometeu a retornar a ele, através da secretaria da entidade. Mesmo assim a resposta não veio na sequência.
O colega só obteve resposta sobre o assunto nas últimas semanas, momento que já inviabiliza qualquer iniciativa de formar outra chapa. No final das contas, depois das eleições de delegados eleitores estaduais – eleições pouco democráticas com data, hora e local marcado de maneira presencial, impossibilitado a participação de quase 97% dos dentistas inscritos – esses delegados terão apenas uma chapa para votar. Uma estrutura arcaica “para inglês ver” que fecha as portas na cara do cirurgião dentista que tenta minimamente se interessar pelos rumos da regulação da sua profissão. É tão cansativo e desanimador que o dentista (que mal tem tempo de cuidar da montanha de demandas burocráticas do seu próprio negócio) acaba desistindo de sequer tentar participar disso tudo e fica a mercê do que uns poucos profissionais classistas decidem.
Você está aí preocupado com postagem de fotos “Antes e Depois”? Se pode isso ou não pode aquilo no Instagram? Se os seus procedimentos de Odontologia Hospitalar ou Estética facial terão respaldo? O buraco é muito mais embaixo, com exposição pulpar, eu diria.
Nessa inépcia do CFO, com falta de conexão e interação propositiva com outros segmentos na gestão passada, a gestão da roubalheira, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) “engoliu” o Conselho, dificultando sua condição de conter anomalias como a aprovação de cursos 100% à distância e cursos em áreas que nem são especialidades formalizadas.
Concordamos que o futuro é do ensino à distância, mas a área da saúde que lida com pessoas e procedimentos que necessitam de treino presencial e grande habilidade manual, não pode ser 100% à distância. E a abertura desenfreada de faculdades de odontologia? Em um mercado já sabidamente saturado! Tem dentista “saindo pelo ladrão” e a principal associação de dentistas de São Paulo, que por anos se disse contra a abertura de novos cursos de odontologia, se torna uma faculdade com a desculpa de poder continuar dando cursos de atualização e pós graduação. Quer dizer, quem deveria estar ajudando está indo contra.
No fim das contas, as coisas ficam sempre na mesma. Os que reclamam e clamam por mudanças passam a ser vistos como chatos e ranzinzas. Quando questionamos membros de Conselhos ou colegas classistas, muitos nos respondem: “Não há o que fazer porque a lei é assim”. Porém, a lei sendo assim dificulta a participação, a transparência e abertura dos processos e permite que sempre o mesmo grupo se perpetue no poder, assim como acontece na política brasileira. A impressão que a gente tem daqui “de baixo” é que os que ditam os destinos da profissão são profissionais descolados do mercado, regulamentando a profissão por meio de resoluções fracas, deixando aberto um espaço para guerra entre médicos e dentistas e entre os próprios dentistas, apenas para citar o exemplo mais recente da situação jurídica da Harmonização Orofacial.
O que queremos? Queremos um olhar no presente e no futuro, com transparência total (alguns conselhos regionais já têm trabalhado nesse sentido fazendo as reuniões de prestação de contas ao vivo na Internet, por exemplo), queremos fiscalização para todos porque hoje, quem segue as regras dos códigos fica para trás em questão de marketing e mídias sociais. Queremos ações efetivas em sintonia com as demandas reais do dia a dia do dentista para que possamos exercer uma odontologia de ponta – é consenso mundial que o Brasil tem uma das melhores Odontologias do mundo – em conformidade com nossa área de atuação para mudar a realidade do país dos desdentados com ética, concorrência leal e códigos atualizados. A nossa odontologia trabalha com a vanguarda da tecnologia digital com máquinas que fazem dentes em minutos e sua legislação se arrasta em leis e resoluções do arco da velha. O Blog Dicas Odonto junto com o Grupo Eu Quero é + Odontologia vai ficar de olho nas ações e nos rumos dados à nossa odontologia. Aguarde cenas do próximo capítulo.
Bom Feriado de Tiradentes.
Um Abraço
Equipe Dicas Odonto