É uma sensação constante. Venho percebendo ao longo desses anos trabalhando nesta especialidade, que o Periodontista é muito desvalorizado perante a equipe de especialistas de uma clínica, de modo geral. Não é uma regra, mas está longe de ser uma exceção.
Suponhamos que eu seja dono de uma clínica odontológica. Formo uma equipe com especialistas em endodontia (tratamento de canal), prótese, dentística, periodontia, ortodontia, odontopediatria e implantes para oferecer um tratamento completo aos meus pacientes. Além disso, deixo um clínico geral para cuidar de avaliações, urgências, encaminhamentos e etc. Posso ter um colega buco-maxilo facial “na manga” para marcar pacientes que necessitem de exodontia dos sisos e um colega especialista em DTM para casos dores articulares. Se eu quiser ser bem completo, posso contar com um especialista em ortopedia facial também.
Quando alguém bate o olho em um canal, encaminha direto para o endodontista, certo? Independente se o canal for difícil, fácil, curvo, de dente anterior, posterior, ou ainda uma necessidade de retratamento endodôntico. Quando o paciente precisa de reabilitação protética: “Por favor,marque com o protesista”. Precisa de aparelho? Nem vou mexer, marque com o ortodontista. Necessidade de implantes? Toda a demanda desta área vai em massa para o implantodontista. E quando o paciente precisa de uma “limpeza” – o que quase todos pacientes precisam de tempos em tempos. Se ela for “fácil”, eu mesmo faço, o clínico geral faz. Agora se os dentes estiverem bambos, quase saindo da boca, em um estado de calamidade pública, aí eu mando para o Periodontista resolver.
O principal tratamento clínico feito pelo periodontista é a raspagem periodontal que consiste em raspagem, alisamento e polimento dos dentes. Quando o paciente precisa realizar “uma limpezinha fácil”, qualquer dentista faz. Porém, aí mora o perigo. Periodontistas não gostam de pedir exames e 14 radiografias periapicais da boca dos pacientes apenas para eles gastarem dinheiro. Existe um objetivo nisso tudo – encontrar problemas periodontais invisíveis ou pouco visíveis no exame clínico que fazemos com SONDA PERIODONTAL. Precisa sondar a boca dos pacientes.
Muitos problemas periodontais não apresentam sintomatologia dolorosa no início e, às vezes, não conseguimos diagnosticar apenas com espelho e explorador. Trabalho como periodontista há 6 anos e percebi esse tipo de tratamento em algumas clínicas por onde passei. Isso desanima o profissional que só pega pacientes com os dentes “em estado terminal”. Outra coisa: diminui nosso ganho no fim do mês. Eu olhava a agenda dos outros especialistas com todos os horários ocupados. E eu atendendo 2 ou 3 casos por semana.
Tudo bem que muitos casos de cirurgia periodontal são passados para a gente, mas isso é apenas parte de nossa atuação. Pacientes com aparelhos ortodônticos poderiam passar com o periodontista numa frequência estipulada, por exemplo, evitando muitos problemas que vemos por aí. Paciente com doença periodontal ativa não pode usar aparelho.
Mesmo em épocas que trabalhei com convênios odontológicos, os clínicos gerais solicitavam e faziam o procedimento de “limpeza” usando o código da tabela para profilaxia e me encaminhavam os pacientes para eu fazer a solicitação de códigos de raspagem periodontal! Eu cheguei a ouvir de colega: “Eu já fiz a limpeza, agora você precisa fazer a raspagem” – Como assim??? Você fez o “filé”, ganhou por isso, me passou a treta e eu que fico responsável pelo paciente? Não aceitei trabalhar mais nessas condições e larguei a clínica. Uma falta de respeito sem tamanho.
Quero deixar claro que estou dando exemplos de clínicas que contratam ou contam com especialistas. Um dentista que trabalha sozinho pode fazer de tudo, se ele quiser. Ele vai fazer até onde o conhecimento e experiência dele alcançam. Se ele achar prudente, ele vai encaminhar. É que quando você agrega o especialista na sua equipe, acho que é direito dele receber tudo relativo à área dele. Seja o caso fácil ou difícil, ele que fica responsável por esta parte do tratamento.
Alguém já passou por algo parecido? Alguém de outra especialidade? Comente!
Um caso em que o paciente está com a saúde boa , não fuma, higiene adequada, está tudo “ok”, sem sintomatologia, sem histórico da doença periodontal na família, não há necessidade de enviar para o periodontista para fazer uma profilaxia, o clínico geral já é o suficiente, agora durante a anamnese você vê que o paciente é fumante há anos, e / ou com problemas de saúde (por exemplo diabete descompensado), gengivite/periodontite etc, ou aquele paciente saudável que citei acima que queira fazer implantes, ou tratamento ortodôntico, com certeza, deveria passar pelo periodontista. Agora o implante x periodontia / ortodontia x periodontia, dentre outras, não tem como uma trabalhar isoladamente da outra (essas áreas trabalham em sintonia para quem quer ter sucesso no tratamento).