Quando se fala de saúde em políticas públicas, logo se pensa em construção de mais hospitais, Unidades Básicas de saúde, UPAs e etc. Na cabeça de muita gente, saúde se limita à prática médica. Odontologia? É apenas estética …
Preciso começar este texto com uma observação extremamente óbvia, para não ser apedrejado pelos fiscais da Internet: os médicos são de extrema importância para a saúde. Eles que cuidam da vida dos pacientes, dão a atenção básica, especializada e são a primeira linha de defesa da saúde. Nós dentistas não estamos querendo competir com eles, mas o próprio programa Brasil Sorridente admite que saúde bucal é tão importante quanto a saúde geral. O que queremos é inclusão. É o reconhecimento de que nossa profissão é de extrema importância para a saúde das pessoas. Sendo ainda mais óbvio e piegas: todo mundo sabe que a saúde começa pela boca.
Aos políticos desavisados: existe um programa do governo federal chamado Brasil Sorridente. Ele está pronto e esperando para ser expandido. Existe o dentista que faz parte das equipes do PSF (Programa de Saúde da Família), parte da estratégia do SUS. Eu me pergunto: Por que esta administração (2008 – 2012) foi inventar algo como AMAs Sorriso? Não precisa. O Brasil Sorridente também está inserido nos termos do SUS. Dentistas atendem em UBSs, fazendo o atendimento básico. Os atendimentos especializados são referenciados para os CEOs (Centros de Especialidade Odontológica). Isso já funciona em São Paulo, porém precisaria de mais investimento e, principalmente, ADERÊNCIA do novo prefeito ao programa, para receber o dinheiro vindo do governo federal para tal.
Como estamos em época de eleições, fui fuçar nos sites dos candidatos à prefeitura de São Paulo, para ver se há, pelo menos, menção da saúde bucal em seus planos de governo. Nas propagandas eleitorais da TV ou do rádio nem se ouve falar de dentista ou odontologia. E querem saber? A maioria dos candidatos mal cita a Saúde Bucal. Triste.
Um dos candidatos parece estar a par das diretrizes do programa Brasil Sorridente. Em um do itens de seu plano de governo, ele escreve: “Implementar gradualmente na UBS, a Saúde Bucal com atenção modular multiprofissional e as ações da saúde bucal nas escolas e na comunidade.” Além disso, este candidato quer garantir o atendimento integral em saúde bucal retomando a implantação dos CEOs. Uma luz no fim do túnel.
Não vou ficar nomeando candidatos aqui no Blog. Um deles escreve em seu programa de governo para a saúde a vaga frase: “Estruturar melhor o programa de saúde bucal para atendimento da população.”. Ok. Aí eu pergunto: Como? Quais os objetivos? Onde que nosso dinheiro será investido? Aumentar o número de dentistas nas UBSs? No PSF? Opa! Falando em PSF, tem candidato que está prometendo aumentar o investimento nas equipes da saúde da família, mas cita apenas as equipes sem dentistas, ASBs e THDs. Outros nem tocam no assunto. “Prometo contratar nutricionistas, psicólogos, agentes comunitários e etc…” – todos eles são profissionais extremamente necessários na saúde. Porém, nada de falar de dentista.
Dentista parece ser a ralé da saúde. O açogueiro. O “tapador de buracos” da boca. “O cara que cobra caro pra fazer uma faxina nos dentes”. “Dentista mexe com estética”. É assim que somos vistos pela grande maioria da população. A grande maioria da população que está desdentada. Que está com cárie e doença de gengiva. Que tem faltas de dentes na frente e reclama que nem pode ir à uma entrevistade emprego. Essa pessoa que não tem nenhum problema de saúde geral e “só” tem falta de UM dente da frente pode ser considerada saudável? Ela tem saúde? Mesmo?
Eu acho um disparate. Uma falta de visão geral. Já começamos mal, com candidatos despreparados, com promessas chulas como as porcarias das AMAs Sorrisos que nem saíram do papel por uma série de problemas. Ainda mandei e-mails para as campanhas dos candidatos, para poder escrever esse post com mais propriedade. Obtive resposta de apenas UM deles. Uma resposta menor que uma linha, dizendo que o candidato reconhece a importância da saúde bucal e fará investimentos na área.
Será que ficaram com medo de mandar e-mail com promessas que não serão cumpridas? Gerar provas contra eles mesmos depois, assim como fez a o prefeito atual? Medo de se comprometer? Alguns candidatos se fazem super acessíveis nas redes sociais, mas só respondem às perguntas que querem. Eu tenho o e-mail guardado aqui, prometendo as 50 AMAs Sorriso …
Esta é a hora de discutir ideias. Pressionar os candidatos. Pensar no prefeito que pode representar melhor as suas propostas. Para isso, nós, cidadãos devemos fazer a nossa lição de casa – procure informações nos sites dos candidatos. Os sites estão bem organizadinhos e com ótimo acesso. Depois, nossa missão muda. Devemos e cobrar e fiscalizar. Só assim poderemos ter base para reclamar. Vamos votar direito?
Um Abraço,
Equipe Dicas Odonto
Meu caro Luiz.
Será que nós, Cirurgiões Dentistas não temos a nossa parcela de culpa por não nos envolvermos politicamente no processo eleitoral? Será que não devemos escolhermos candidatos para apoiar e trabalharmos a inclusão de projetos de saúde bucal nos planos de governo? Como experiência própria, consegui desenvolver junto com um grande amigo e parceiro, um excelente Programa de Saúde Bucal em Cubatão no período de 1997 a 2000, graças à participação efetiva na Campanha do Dr. Nei Eduardo Serra, que se elegeu Prefeito. Durante a campanha já montamos um projeto que foi aprovado pelo candidato, e que já começou a ser implementado no 1º dia do governo.
Então, não devemos apenas responsabilizar os políticos, mesmo porque realmente para a maioria deles, saúde só se refere a doenças sistêmicas. Nós é que devemos convence-los que a saúde começa pela boca!