10º DIA

Baseado na época em que fiz faculdade e usando um pouco de humor, vou tentar reproduzir um dia na minha vida de acadêmico que foi de 1998 até 2001. No final, uma foto das “Memórias de Acadêmico de Odonto”. 

– 1998 –

“Que balada, minha gente! Sim! Era eu ali vestido de vampiro, todo de preto, com uma capa roxa (emprestada de um amigo) e uma maquiagem salafrária toda borrada em volta dos olhos. A bebida é à vontade e o Casarão da Av. Paulista está cheio de futuros dentistas fantasiados. Um amigo meu se vestiu de “velho”. Foi de terno e uma máscara que só deixava os olhos e a boca de fora. Festa organizada pela saudosa Máfia da Casinha.Um barulho de fundo me incomoda, mas eu nem quero saber. Quero ficar aqui mais tempo. Poxa, 1º ano de faculdade, quase toda a sala ali, todos os veteranos, uma mulherada de outro mundo … O barulho fica mais alto, mais alto, insuportável … Me dou conta de que o barulho é o despertador e que eu estava sonhando como se ainda estivesse na festa. Que sede!

Putz! Lembrei! Tenho que apresentar um seminário na aula de biologia. Escovo os dentes para tirar o gosto de corrimão da boca. Banho, lentes de contato, roupa branca, papelada toda rabiscada com minhas anotações sobre a Síndrome de Cornélia de Lange. Todos nós tivemos que formar grupos para apresentar um seminário na matéria de biologia. Cada grupo focou em uma Síndrome diferente e todas elas cairão na prova final. Portanto, era importante assistir as apresentações e ainda apresentar o trabalho direito.

Ao chegar, procuro meus colegas de grupo. Um deles me entrega as transparências (é, meus amigos leitores, sou do tempo do retro-projetor e transparências. É mole?). O nosso maior medo é que o professor vai escolher 3 alunos para apresentar. Eu estou preparado e sei que é só seguir a ordem das transparências que estarei seguro, caso seja escolhido. No grupo de 8 pessoas, 7 tinham ido na festa e farreado como se não houvesse amanhã – inclusive eu.

Bebo água. Ando de lá para cá. Leio as transparências pela quinta vez e o último colega que faltava, chega parecendo um zumbi, com a mochila pendurada. O auditório já está completo com quase 100 alunos da minha sala. Os professores se sentam na primeira fileira. Nos acomodamos atrás de uma mesa grande, retangular e outro colega posiciona as transparências, tudo isso sobre um tablado no anfiteatro da UNIP. Quem será que ele vai escolher? Que nervoso…

“Vamos lá, estão prontos? Quem vai apresentar é você! Pode começar, por favor!” Ufa! Fiquei de fora, por enquanto. Meu amigo se levanta, se apresenta e começa a falar meio enrolado, gaguejando. Ele é um dos “comédias” da classe, então percebo como todos colegas da sala prestam atenção. Claro que prestavam atenção, esperando um tropeço, uma piada ou algo do gênero. Alguns já dormiam, se rendendo ao cansaço da bebedeira da noite anterior.

O primeiro foi bem, aos trancos e barrancos. O professor apontou para outro colega, que se escondia atrás das mãos. O zumbi. Ih… Ele não é muito fã de falar em público. Parece que os professores sabem, né? Isso não vai acabar bem. O pessoal já tava segurando a risada. Coitado. Ele começa a suar. Tremer. Gaguejar muito. “Prof…profes…professor…nã…não…consigo…mais…”

Caracoles! E agora? Eis que o professor pergunta: “Alguém se habilita? Alguém quer apresentar?” “TUFF” – o barulho do ventinho de todas 7 cabeças do grupo se virando para mim. Eu havia dito que não me importava em apresentar e que não tinha problema. Simbora. “Eu, professor.” – falo, tirando o microfone molhado, das mãos trêmulas do meu colega sofrendo de uma síndrome pós festa, bem diferente de Cornélia de Lange.

Dou aquelas gaguejadas básicas, mas estou indo bem. Isso. “Continue assim”, penso. Sinto a pizza de suor se formando no sovaco. Normal, todo mundo sua. O colega troca a transparência e continuo listando características da síndrome, lendo a projeção e inconscientemente apontando para partes do meu corpo: “As características faciais da síndrome são bem visíveis, como as sobrancelhas unidas – aponto para minhas sobrancelhas, balançando o dedo – o nariz pequeno – pego na ponta do meu nariz – a cara arredonda e às vezes crânio abaulado – faço movimentos circulares em volta do meu rosto – hipoplasia dos grandes lábios – aponto para minha boca – e …”. Risadas. Muitas risadas. Paro de falar e sinto um frio na barriga. O que houve??? 

“Aonde ficam os grandes lábios mesmo?” – o professor pergunta, com cara de sério. As risadas continuam. Os que estavam dormindo, acordam. Olho para o meu grupo, procurando respostas. Uns estão de cara feia e outros seguram a risada. “Como professor?” – pergunto no microfone, sentindo minhas bochechas e orelhas pegando fogo. As risadas aumentam e me dou conta da bobagem que eu fiz. Meu colega que fez as transparências misturou características da face e do restante do corpo e eu, em um momento de extrema desatenção apontei para minha boca e tinha falado de grandes lábios… PQP!!!

A apresentação já tinha sido um desastre total. Um cara gritou lá de trás: “Aeee, tá precisando arranjar uma namorada, hein?”. Olho para um lado. Olho para o professor. Olho para os quase 100 sorrisos e resolvo acabar de vez com o seminário, fazendo uma piada no microfone: “É que eu sou virgem, gente!”. Pronto. A galera se rachou de rir novamente e o meu amigo que tinha feito as transparências assumiu o microfone para terminar de apresentar o trabalho.

Resumindo: Uma das alunas (daquelas mais nerds, digo preocupadas) foi reclamar com o professor Zan sobre nossa apresentação, já que a matéria cairia na prova final. Fomos obrigados a apresentar novamente, em outro dia. Esse foi meu primeiro seminário clínico. Está bom pra vocês?”

Momento #vergonhaalheia antes dos hashtags existirem!

MEMÓRIAS DE UM ACADÊMICO DE ODONTOLOGIA

 Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto

Luiz Rodolfo