7º DIA
Baseado na época em que fiz faculdade e usando um pouco de humor, vou tentar reproduzir um dia na minha vida de acadêmico que foi de 1998 até 2001. No final uma foto das “Memórias de Acadêmico de Odonto”.
“Tensão no ar. Quase não durmo esta noite. Levanto da cama e vou direto escovar os dentes. Olho para o fio dental e ele olha de volta – Ah, depois eu passo! Tomo um café com leite e como umas bolachinhas de água e sal. Meu amigo me liga. Encontro com ele na portaria. Sua voz está apreensiva: – E aí, vamos?
E lá se vão dois caras de cabelo raspado e roupas velhas. Meu amigo entrou em engenharia e eu entrei em odonto. Os prédios ficam na mesma rua e decidimos ir junto ao dia do abate, ou melhor do trote. Como não conhecíamos ninguém e estávamos indo desarmados para o território do inimigo, resolvemos juntar forças para o primeiro dia de aula na faculdade, apesar da diferença de cursos.
Nem conseguimos entrar na faculdade, como esperado. O pessoal da engenharia já estava nos chamando para fazer trote e continuamos andando. Assim que chegamos ao último bar da rua, o famoso Bar da Rô, a zoeira começou. Meu amigo da engenharia acabou ficando junto.
Primeira ordem: todos deveriam entrar no banheiro do bar (um de cada vez, é claro) e colocar a cueca por cima da calça. Lá vou eu. Ao sair do banheiro, um cara tira um dos meus tênis e amarra junto ao cadarço de outro tênis. Quando olhei melhor, vi que tinha um bolo de tênis, todos amarrados juntos. Essa era a garantia de que não iríamos fugir.
Na sequência um veterano pede para mastigarmos uma balinha roxa: “Mastiga aí, passa pela boca e pelos dentes com a língua, mas não engole. Cospe lá depois.” Que porcaria é esta? Depois mandaram sentar na mureta em frente ao bar e outro veterano foi analisando a boca de cada calouro. Os comentários: “Nossa, que mina porca, olha!”; ” Olha esse aqui então… Mostra a língua bicho … Creeedo, que cara nojento!”; Só depois explicaram: a balinha é um evidenciador de placa à base de fucsina. Todo dentista conhece e ele “pinta” de roxo onde tem placa na boca. Lembra que desisti de passar o fio dental? Pois, é. Ficou tudo roxo entre meus dentes.
Na rua, com cabelo cheio de falhas, um pé com tênis e outro só de meia, com a cara pintada, um palavrão escrito no pescoço e pedindo dinheiro na rua. Sou eu fazendo o famoso pedágio em frente à Hobbie Vídeo (isso nem existe mais…), num cruzamento da Indianópolis. Meu bolso está cheio de objetos: balas, moedas, cigarros, papéis de bala, notas de um real (…também não existe mais), preservativos e uma suada nota de dez reais! Um dos veteranos me viu ganhando a nota e pediu para eu entregar para ele. E eu tinha escolha?
Outro veterano, em um gesto de humanidade nos trouxe água. Ele nos tranquiliza dizendo que logo iremos comer esfiha do Habbib´s (esse ainda existe!!! Porém não como mais lá. A esfiha é muito fofoqueira*). O grupo se dividiu. Uns voltaram à faculdade para contar a grana. A gente foi à lanchonete, como prometido. Resolvo me gabar e conto sobre a nota de dez paus. Os veteranos se entreolharam e um pergunta: ” Para quem você deu a nota?” Descrevo o cara. O veterano cheio de esfiha de carne na boca atropela a conversa: “FDP! Esse cara embolsou os dez mangos! Já é a segunda vez que ele faz isso. deve estar passando fome mesmo o “fio duma quenga!””
Eram quase 15:00 horas e, ao voltar para o bar, reparo na conversa entre uma bichete (com o sutiã por cima da camiseta) e uma veterana: “…Mas eu preciso ir para casa, tenho compromisso, por favor, devolve meu tênis!”; “Não senhora, você entrou em uma faculdade integral e o trote é integral também, oras. Vamos beber!” De fundo, ouço a bateria e uma galera que entoava: “UNIPeou … UNIPeou … UNIPeou ou ou ou ooou!”
Amontoaram todos os calouros e calouras dentro do bar. Os veteranos eram muitos e estávamos encurralados. Aí me deu um frio na barriga, porque vi que a bagunça ia começar de verdade… “
*Esfiha fofoqueira = aquela que fica conversando com você o resto do dia; De tempos em tempos, até o outro dia, o tempero forte e a cebola permanecem.
MEMÓRIAS DE UM ACADÊMICO DE ODONTOLOGIA
Equipe Dicas Odonto
Luiz Rodolfo
Não consegui ficar sem rir dessa história…….muito boa…….
Hahahaha
Vida de calouro é triste, o que consola é saber que um dia o calouro será um veterano…rs
Mas até que o trote que você “sofreu” não foi tão humilhante assim vai?!
Pelo menos foi tudo na base da brincadeira o pior é quando eles apelam pra violência ou algo parecido…
Ah! quando li: “Esfiha fofoqueira” fiquei pensando… “Meu Deus, 1998/2001 foi minha época também mas nunca ouvi falar nisso… O que será???”
Quando vi a tradução… ri muito… Boa!!!
A Esfiha Fofoqueira é uma gíria interna que tenho com meus amigos, por isso coloquei a tradução. Eu sabia que muita gente não ia entender. Obrigado pelo comentário! A continuação sai semana que vem!
Muito bacana esse post, me identifiquei muito pois cursei Odonto no mesmo campus, e logo identifiquei a história quando citou o bar da Rô. O trote ficou tradicional, pois no meu ano de 2006, tive exatamente o mesmo trote. Rs. Abraços.
Mudam as faculdades, mas as situações são as mesmas..
li esse post e recordei direitinho do meu trote!!
Quanta saudade!
:'|