Essa foi a declaração do ministro-chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante – “Ajuste fiscal é como dentista. Ninguém quer, mas tem que ir”. Há alguns anos o povo estava acostumado às analogias futebolísticas do então presidente Lula. Agora os holofotes estão na crise econômica e o ministro colocou os dentistas no meio do imbróglio.

Mercadante

Sinceramente, eu não vejo nada demais na declaração. Não me ofende. Apenas uma analogia infeliz para tentar suavizar um momento crítico da economia brasileira que está indo para o buraco a cada dia. Só acho que o ajuste fiscal que o povo brasileiro vai ter que engolir é muito pior que dentista. O dentista pede com educação para que o paciente abra a boca. O ajuste fiscal vai entrar goela abaixo. Muitos dentistas em redes sociais, principalmente em grupos fechados de Facebook estão revoltados com essa declaração.   

“Vamos entrar com processo”; “Os conselhos precisam emitir nota”; “Ele vai ter que se retratar”; Xingamentos e muito ódio para cima dessa declaração. Um dos comentários por lá me chamou atenção: “É a tara que as pessoas têm em vincular tudo que é ruim ou custa caro à Odontologia …”. Com isso eu concordo. Fazemos um difícil trabalho de valorizar a nossa profissão como dentistas e sempre tem alguém tirando sarro, dizendo que dói, que não gosta, que somos mercenários e etc.

Concordo também que procedimentos corretivos odontológicos não são muito confortáveis e segundo o ministro, essa é a verdade maior: muita gente não quer mesmo ir ao dentista. Pós operatórios complicados e alguns procedimentos desconfortáveis. Podemos enxergar isso por dois lados. Um deles é que a população brasileira não é acostumada com prevenção quando se fala em odontologia. Muitos pacientes só procuram os dentistas quando já estão com dor. Quando o problema já é mais grave e sua resolução vai ser mais difícil, mais cara, mais demorada e mais desconfortável. 

Porém, há um outro lado que alguns dentistas não consideram. Serve até como uma reflexão. Será que não poderíamos minimizar mais ainda o desconforto dos nossos pacientes em certos procedimentos? Será que quando formos realizar exodontia de quatro sisos de uma vez só, não seria legal usar algum tipo de sedação como protocolo? Ou casos de enxerto grandes, colocação de vários implantes ou em tratamentos de canal mais longos? Será que não deveremos ter a anestesia mais presente em restaurações pequenas mesmo ou em procedimentos de raspagem não tão profundos? 

Faço essas perguntas porque percebi que procedimentos e exames médicos têm se tornado cada mais confortáveis e profissionais. Não me refiro a cadeiras odontológicas que fazem massagem, mas sim de procedimentos mais previsíveis e pós operatórios mais controlados com medicação correta evitando dor e o tal trauma que grande parte da população tem do dentista. Quem sabe um pequeno “ajuste” nesses pontos evitariam declarações como a do ministro?

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Atualização em 12/03/2015 – O CROSP enviou ofício pedindo retratação do ministro-chefe da Casa Civil. Leia AQUI

Um Abraço,

Equipe Dicas Odonto